Fazenda do Centro, em Castelo,

completa 175 anos de fundação

 

Em artigo publicado no jornal A Tribuna, Cilmar Franceschetto, diretor geral do Arquivo Público do ES, conta a trajetória de um dos ícones da história capixaba

 

 

Um capítulo interessante da colonização do interior capixaba diz respeito à história da Fazenda do Centro, em Castelo, que comemora os 175 anos da sua fundação.

 

A propriedade era considerável, com 3.202 alqueires (155 Km²), localizada às margens do rio Caxixe, um dos afluentes do Itapemirim. O imenso casarão, de 1800 m², foi edificado por mãos dos negros escravizados, em 1845, sob o jugo do proprietário, major Antônio Machado Vieira da Cunha, quando então se iniciava o ciclo do café no Brasil.

 

Nessa mesma região, por volta de 1620, os Jesuítas, que estavam sediados em Benevente, fundaram as missões Montes do Castello, para aldeamento dos índios puris e, provavelmente, para a extração do ouro, conforme atestam alguns historiadores. Em 1705 foi a vez dos Bandeirantes, liderados por Pedro Bueno Cacunda, que retomaram a exploração aurífera nas Minas do Castello.

 

O próprio nome já revelava sua grandeza: Fazenda Centro do Mundo. Há relatos de que chegou a possuir, em seu auge, 600 cativos. Aparte a violência do sistema escravocrata, havia na fazenda um elenco de artistas que se apresentavam no teatro, na música e em outras atividades culturais, expressando-se nas artes suas vivas aspirações pela tão sonhada liberdade.

 

Com a Abolição, a fazenda logo entrou em decadência, também agravada pela queda no preço do café. Manoel Fernandes de Moura, seu proprietário na ocasião, contratou 151 imigrantes italianos, nos anos de 1888 e 1895, na tentativa de manter o empreendimento cafeeiro.

 

Mas foi em 1909 que a Fazenda do Centro ganhou novos rumos. O religioso espanhol, Frei Manuel Simón, reuniu sócios para aquisição dos terrenos, bem como dos seus maquinários, do casarão e das demais benfeitorias para ali instalar a Ordem dos Agostinianos Recoletos, que estava sediada em Anchieta.

 

Em seguida, retalhou a propriedade em lotes de 10 alqueires e os vendeu, a prazo, às famílias italianas, que estavam localizadas na região de Alfredo Chaves. A fazenda tornou-se, assim, em núcleo colonial, por iniciativa de uma congregação religiosa: único exemplo no país. E o imóvel, o centro de estudos e sede dos Agostinianos no Espírito Santo.

 

O casarão da fazenda fica a 11 km da cidade de Castelo. Em 1984, foi tombado como bem histórico pelo Conselho Estadual de Cultura.

 

Foi restaurado em 2011, por força da mobilização de bravos idealizadores que, para tanto, fundaram, em 2005, o Instituto Frei Manuel Simón, que agora administra o casarão.

 

Os recursos para a execução das obras foram angariados junto ao Governo do Estado, a Prefeitura de Castelo, além de doações da iniciativa privada, das comunidades e famílias da região.

 

A Fazenda do Centro se estruturou no vale do rio Caxixe, por onde desde épocas imemoriais transitavam os povos indígenas. Por ali passaram os Jesuítas e depois os Bandeirantes. Em seguida os portugueses com os negros escravizados. Por último, chegaram os padres Agostinianos, espanhóis, trazendo centenas de famílias italianas.

 

Uma história muito rica, em seus diversos ciclos, representativa da mistura de povos e diversidade cultural do Espírito Santo.

 

*Artigo de Cilmar Franceschetto publicado no Jornal A Tribuna desta quinta-feira (12 de Novembro de 2020).