Por João Gualberto
O Espírito Santo, suas forças sociais, precisam rediscutir a nossa história. É bem verdade que já existe na Universidade Federal, um certo esforço intelectual para restabelecer certas verdades históricas, se é que existe essa categoria. Em todo caso, é necessário, mas é pouco. Países como França, Espanha ou Portugal socializam de tal forma os componentes de sua trajetória temporal, seus heroísmos e a força da sociedade em seu fazer cotidiano que passam uma sensação de pertencimento coletivo.
Essa sensação de pertencimento alimenta o turismo em larga escala. Milhares vão ao norte da Itália – para citar apenas um exemplo – para conhecer vinhos e gastronomia, visitar edificações centenárias, igrejas antigas e museus que contextualizam o desenvolvimento daquele território cultural.
Por isso a história é um ativo coletivo. Produz riqueza. Tanto é assim que o presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, afirmou recentemente que as áreas da economia criativa, sobretudo os serviços prestados pelas famílias como restaurantes, por exemplo, puxaram o crescimento do nosso PIB. Nós capixabas desperdiçamos muitos desses ativos turísticos. Para não ir longe demais basta lembrar o patrimônio arquitetônico representado pelas edificações jesuíticas do período colonial, como o Santuário de São José de Anchieta, todo restaurado e com acervo qualificado, e a Igreja de Reis Magos na Serra, também restaurada.
Os capixabas valorizam pouco sua história. Esse é o ponto. Nossas elites econômicas parecem presas a um modelo industrial que já nos alavancou no passado, tem um papel importante no presente, mas tem sua capacidade de promover uma verdadeira transformação social totalmente esgotada. É preciso investir na chamada economia criativa. O sentimento de pertencimento, a valorização da cultura popular e, sobretudo, o reconhecimento do que nos faz diferentes.
O título do artigo pode parecer paradoxal, mas não é. Conhecer a história é conhecer a trajetória das razões do nosso sucesso como estado empreendedor. Já o termo inovação social é usado aqui como o conjunto de novas ideias que atendem a necessidades sociais e, ao mesmo tempo, criam novas relações ou colaborações entre as pessoas e os grupos. Essas inovações recombinam recursos e capacidades já existentes para criar novas funções e novos sentidos. Usar a história como inovação social implica em vê-la com um olhar no futuro. Trazer aprendizados do passado.
Voltando ao tema histórico, já falei da arquitetura jesuítica, poderia ter citado também as lindas fazendas de café da região de Mimoso do Sul, da beleza da cidade de Muqui ou do esplendor da Fazenda do Centro, em Castelo. Todo esse ativo corre riscos, com as fazendas do final do século XIX e início do século XX que estão em ruínas no sítio histórico de São Pedro de Itabapoana.
Mesmo a imigração europeia do século XIX, feita na maior parte por italianos e germânicos como os pomeranos, tem uma exploração econômica muito baixa. Você, leitora ou leitor, conhece algum prato da gastronomia pomerana? Nunca tivemos em Vitória restaurante que explorasse tantas comidas de qualidade eles produzem historicamente. Então, mais uma vez temos um ativo turístico desperdiçado.
Mas por que agregar, então, Inovação Social? Simplesmente porque explorar nossas trajetórias de forma inovadora pode aumentar pertencimento, destruir o falso mito da ausência de identidade que nos assalta, e nos fazer maiores diante da federação brasileira e do universo globalizado em que estamos. Estudar e reinventar o passado é absolutamente inovador. Uma plataforma de oportunidades. A socialização dessas informações tem que ser compatível com o mundo digital, longe dos grandes compêndios de história que só interessa aos intelectuais. Mas, isso já é motivo para um outro artigo.
Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta, no dia 11 de março de 2023, com o título “ES precisa aproveitar sua história como inovação social”.