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INTEGRALISMO
O INTEGRALISMO
A Ação Integralista Brasileira foi o primeiro movimento de massas no país. Dois anos depois de ser fundado, promoveu uma demonstração de força no Rio de Janeiro, com a participação de quatro mil militantes.
Em meio às escaramuças com os grupos de esquerda, especialmente a Aliança Libertadora Nacional, a Ação Integralista, nascida em um meio católico e intelectual, tornou-se o escoadouro natural de forças autoritárias de direita. Depois de se tornar partido político em 1936, o movimento integralista, no ano seguinte, lançou Plínio Salgado como candidato a presidente da República.
Os italianos ainda na Itália já tinham noção de como as coisas ocorriam com os imigrantes no Brasil, principalmente no Espírito Santo, através de informações de cartas de parentes e de outros meios de comunicação.
O conhecimento das mortes de italianos em Santa Leocádia ocasionou uma revolta de italianos recém-chegados ao Espírito Santo. Ao saberem, ainda no navio, que iriam para lá, resolveram não desembarcar. Prometeram uma revolta que só acabou quando o governo resolveu destiná-los para as regiões que eles desejavam.
Convencidos pelos membros da Ação Integralista Brasileira e pela Igreja Católica de que suas propriedades e suas famílias corriam sérios riscos, os colonos italianos e seus descendentes mergulharam com grande espírito de luta na aventura do integralismo, criado por Plínio Salgado.
A forte presença dos italianos no Espírito Santo facilitou a disseminação da doutrina integralista, onde seus dirigentes foram recrutados sobretudo entre profissionais mais representativos das classes médias urbanas. Eram os militantes da Ação Integralista Brasileira (AIB) que teve quase 400 mil participantes.
Numa sociedade em transição inserida no contexto internacional das lutas ideológicas entre comunismo e fascismo, a Ação Integralista significou, para os colonos italianos e seus descendentes, uma opção pelo anticomunismo. Era um movimento essencialmente nacionalista, cujo cumprimento era estender o braço direito sob a fala da palavra indígena “ANAUÊ”.
O carismático Plínio Salgado, chefe nacional da Ação Integralista, também colecionava admiradores extremados na colônia italiana, graças a seus discursos inflamados pelo rádio. Ex-militantes integralistas se lembram de que na época eles costumavam se reunir num grupo numeroso para ouvir Plínio “e tinha até uns que choravam”.
De acordo com o historiador Agostino Lázaro, autor de “Lembranças Camponesas” juntamente com Glecy Coutinho e Cilmar Franceschetto, os colonos “viram na ameaça comunista propalada pelo integralismo a possibilidade da perda da propriedade que a duras penas conseguiram aqui no Brasil, a ponto de ter que abandonar a pátria de origem e isso os remetia à questão que os havia trazido para o Brasil: a luta pela posse da terra”.
No interior do Espírito Santo, um dos livros de doutrinação mais populares entre os simpatizantes do movimento “O integralismo ao alcance de todos” definia de maneira bastante simplória o comunismo como “uma porção de homens que querem tomar conta do governo do Brasil para acabar com a família”.
Contudo, pela influência das lutas políticas municipais, o comunismo muitas vezes era confundido com o PSD (Partido Social Democrata de orientação conservadora), chamado pelos integralistas de Venda Nova, de Castelo e de Conceição de Castelo de “Partido Sem Deus”.
Usando camisas verdes com o s ímbolo do integralismo, levando a letra grega “
Sigma”
maiúscula preta, um
M
virado para o lado direito, costurado nas mangas, os militantes desfilavam pelas ruas, impressionando pela organização quase militar com que se apresentavam ao público. Às vezes os desfiles terminavam em conflitos e mortes.
Em Muqui houve uma reunião municipal de integralistas com convidados de todo o estado cuja sessão foi no antigo Cine Ideal. Como a maior parte deles eram sitiantes, as caravanas que chegavam dirigiam-se à casa do chefe da cidade para que pudessem deixar seus canivetes ou possíveis armas que portassem.
Durante a sessão porém surgiram uns arruaceiros provavelmente do partido contrário fazendo apartes provocativos, conturbando a reunião, até que de repente começou uma troca de tiros. Os chefes que estavam no palco pediam que todos se abaixassem, porém uma jovem correu até à beira do palco para acolher-se com seu pai quando foi atingida por um tiro nas costas ficando paralítica para sempre.
Como só tinha uma saída e as pessoas não tinham por onde escapar, no meio daquele tumulto formado, os chefes foram todos presos, incomunicáveis, pelo delegado e componentes do partido contrário, sob a fala de: “Prendam os energúmenos!”.
Os participantes da reunião saíram correndo a esmo pelas ruas, sem seus chefes, tendo suas camisas verdes arrancadas pelas pontas de baionetas, dependuradas acintosamente em árvores e postes.
Em Muqui, na sede dos integralistas, que era em um sobrado quase à frente do Jardim de Infância, já administravam aulas sobre patriotismo e alfabetização de adultos. Os inimigos pichavam as paredes provocando continuamente os partidários.
Muitos colonos, no entanto, que se tornaram integralistas, não foram atraídos pelo conteúdo ideológico ou político, mas pela oportunidade de se diferenciarem, pelo uniforme e pelo ritual do movimento, aos olhos de suas comunidades.
Outro ponto em que a mensagem integralista os atingia em cheio era a defesa da família. Tudo se resumia, de maneira bastante eficiente, no slogan integralista “Deus, Pátria e Família”. O imigrante italiano sempre teve na sua família o esteio de sua sobrevivência. Uma influência muito importante sobre eles era a Igreja, cuja adesão ao integralismo foi total. Havia também um fator de coação: os que não aderiam eram chamados de comunistas e discriminados. Quando se fala de integralismo não se pode ignorar a canalização que ele fez da energia da comunidade para a construção de estradas, de colégios e pontes.
Em 1937, Getúlio Vargas obteve seu apoio para implantar a ditadura do Estado Novo. Com a instauração do Estado Novo por Getúlio, começou a repressão aos integralistas. No ano seguinte, o presidente dissolveu a AIB. Em maio de 1938, os integralistas tentaram um golpe para capturar Getúlio Vargas e assumir o poder. A conspiração falhou e 1.500 golpistas foram presos.
Depois do decreto de Getúlio Vargas, ditador da época, que os proibiu de fazer reuniões e de ter atividades políticas, inclusive de se comunicar através do dialeto. Abriu uma temporada de perseguição aos imigrantes e seus familiares, com reflexos na sua cultura e no seu modo de vida. Eles reagem realizando um atentado contra Getúlio. Ocorreram prisões em massa e Plínio foi obrigado a exilar-se.
Talvez a violência praticada contra o italiano no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial tenha sido maior do que a experimentada na repressão ao integralismo. Além da repressão policial, que foi enorme, era permitido a qualquer cidadão brasileiro, ou luso-brasileiro, tomar medidas contra eles. Suas casas foram saqueadas e seus estabelecimentos comerciais, invadidos. Muitas famílias valeram-se da mata para fugir das perseguições. Era hábito para fugir dos maus-tratos colocar uma bandeira branca no alto da casa como sinal de trégua.
O que sobrou do movimento integralista foi acolhido em uma agremiação política criada especialmente para esse fim, quando a derrocada do Estado possibilitou o aparecimento de novos partidos. No Espírito Santo, o PRP (Partido da Representação Popular) surgiu em 1945, sob o controle rígido de um grande orador religioso e empolgante agitador de massas, o padre Ponciano dos Santos, que se elegeu três vezes deputado federal.
Foi tal o rigor da disciplina imposta ao partido, que o padre transformou em deputado estadual, com apenas três meses de residência no Espírito Santo, um sobrinho que ele trouxe do Rio Grande do Sul, e nenhum militante o contestou. Essa disciplina era evidentemente uma herança da Ação Integralista, com uma diferença, porém: ninguém ousava mais usar a camisa verde que identificava os militantes de Plínio. Ponciano foi substituído no comando do PRP por Oswaldo Zanelo, também eleito deputado federal.
Tendo o PRP como única opção para sua militância, a comunidade italiana capixaba acabou confinada, na sua atuação política, a um projeto político extremamente modesto como era o partido herdeiro da ambiciosa Ação Integralista. Lutando com dificuldades, o PRP nunca passou de um partido de pequeno porte no Espírito Santo.
Nas décadas de 40 e 50, com o poderoso PSD, comandado por Carlos Lindenberg e Jones dos Santos Neves, dominando o cenário político capixaba, a única liderança política de origem italiana bem-sucedida foi a de Atílio Vivácqua, do PR (Partido Republicano), que na oposição elegeu-se duas vezes senador. Contudo, Vivácqua não era exatamente um italiano de origem camponesa como a maioria dos imigrantes. Muito pelo contrário. Sua família chegou ao Espírito Santo antes dos primeiros imigrantes italianos, dedicou-se ao comércio inicialmente em Muniz Freire e tornou-se uma das mais ricas do estado.
Só no final dos anos 50 é que Raul Giuberti, filho de imigrantes com base eleitoral em Colatina, se tornaria uma expressão política de maior peso, mas atuando de maneira isolada da comunidade e sem o menor vínculo com remanescentes da Ação Integralista. Graças à sua atuação como médico, Giuberti, filiado ao PSP de Ademar de Barros, conquistou a prefeitura de Colatina, tornou-se depois vice-governador e por duas vezes elegeu-se senador. Com o advento do regime militar, destacou-se politicamente Henrique Pretti, vice-governador de Arthur Carlos.
Os integralistas e seus remanescentes estão desaparecidos até hoje. A repressão em Muniz Freire chegou ao ponto de os imigrantes esconderem suas armas nas sepulturas do cemitério. Esses dois episódios foram determinantes para o estabelecimento de um quadro de terror permanente nas colônias italianas no Espírito Santo.
De certa forma, teve relativo prosseguimento, com o advento do regime militar que durou 30 anos no país. Por todo esse tempo, desapareceram as tradicionais comemorações dos feitos de seus pioneiros. Valeram-se ainda do período para mudar o nome de várias localidades em italiano que existiam no estado. Trocaram por nomes brasileiros.
A geração anterior de imigrantes tinha receio de apresentar-se como descendente de italianos, somente agora é que uma nova geração age para recuperar a história e milita em entidades ligadas à sua cultura. Em busca, certamente, do tempo perdido, de modo que o imigrante italiano seja recolocado no seu devido lugar na história deste país.
Fonte: Câmara Municipal de Muqui